Linha Dura representante da CUFA de Cuiabá inicia sua falando e procurando estender a importância do Projeto Consciência Hip Hop dentro do Complexo Pomeri onde os menores infratores tem oficinas de Break, Graffiti, MC e DJ que são os elementos do Hip Hop e se emociona ao lembrar a história de um jovem que teve a oportunidade de estar junto com a Cufa quando saiu da internação e pouco tempo depois caiu no crime novamente e atualmente se encontra preso no sistema prisional Pascoal Ramos em Cuiabá. Sua fala induziu o público a pensar que o trabalho de quem tenta socializar uma pessoa que está ali lado a lado ao crime é complicado pois não há uma certeza se o indivíduo vai ou não conseguir ficar fora do sistema criminal pela ausência de planos de reintegração destes jovens.
Em sua fala MV Bill faz um paralelo entre a fala do rapper Linha Dura e os casos acontecidos no Rio de Janeiro durante a realização do trabalho que ele veio lançar na capital. "Eu lembro o caso do jovem que queria ser palhaço no documentário e fico feliz pois lembro de outros casos em que a história foi mais feliz. O Fortalece está trabalhando num circo em Santa Catarina".
Bill fala também da presença multirracial no evento. Lembra a necessidade de união e debate a condição dos jovens favelados no país. Elogia o trabalho da Cufa-Cuiabá e comenta o comportamento atual dos brasileiros perante a Copa "Se conseguíssemos manter este espírito de nação fora do período de copa, resolveríamos o problema, porque ele passaria a ser de todos nós e não só de quem vive na exclusão, de quem vive lá embaixo".
Bill lembra que no Brasil só há três meios de ascensão social abertas ao jovem negro: a música, o esporte (o futebol especificamente) e o crime. Relata que diariamente é indagado pela sua "coragem" em gravar o documentário e para esta pergunta responde "Não precisei de coragem pra fazer o documentário, não filmei o desconhecido pra mim, filmei minha própria realidade, precisei de outras armas como o amor, boa vontade e desejo de humanização".
Logo após o Prefeito Municipal fala sobre a necessidade de ouvir as periferias via seus representantes "É um quadro que não existe apenas no Rio de Janeiro, é um quadro nacional, tem em Macapá tem em Cuiabá. É um quadro, infelizmente, nacional, não sou exper. no tema, mas como professor há mais de vinte anos, quero dizer, a meu modo de ver, porque esse quadro chegou a tamanha exclusão. Conheço muita gente que vem de famílias muito pobres e não viraram criminosos. Eu mesmo nasci em família pobre, vendi jornais em Cuiabá, colocava 10, 12 quilos de jornal na cabeça... como a maioria que está aqui, vim de família pobre. Na minha opinião o que acontece no Brasil é a destruição da família, a televisão tem uma parcela de culpa grande na família brasileira, com sua exaltação ao consumismo. Vimos a violência crescer em todas as parcelas da sociedade brasileira. Mas principalmente entre os jovens de 14 a 20 anos. Só há dois caminhos para mudar o ser humano: o primeiro é Deus e Jesus Cristo, o segundo é educação. Um país que não investe em educação, que não investe pesado na educação de seus jovens, quer impedir que o povo cresça e mantê-lo na miséria, na ignorância". Continua falando sobre as ações sociais da prefeitura, como o curso gratuito, que aprovou 49 estudantes no último vestibular da UFMT e o apoio à Cufa Cuiabá. Exalta também a figura do pastor Sandro, que trabalha junto com a Cufa local. E acaba por prometer "abrir os cofres da prefeitura" para ajudar ações de ressocialização e inclusão de jovens.
Abre uma breve sessão de perguntas aos que compunham a mesa e a Deputada Estadual Verinha Araújo (PT) faz a primeira indagação:
Verinha: O Linha Dura disse na fala dele que os jovens, quando saem do crime, não querem ser pedreiros ou lixeiros. Queria que ele trabalhasse melhor essa questão, pois eu já trabalhei com lixeiros e conheço várias pessoas que gostam de fazer esse trabalho (ser lixeiro). Eu valorizo muito quem vai na porta da nossa casa fazer o recolhimento do lixo, os trabalhadores das usinas, nossos pedreiros... parece que por se fazer essa opção parecer não digna. E é muito digna.
Linha Dura: Eu falei aqui que a televisão é uma arma que leva os jovens ao consumismo. O jovem dentro da comunidade da CDD (Cidade de Deus) para se ter moral é preciso ter um fuzil pendurado no pescoço. É quem tem dinheiro de alguma forma, quem vive nos bairros não vê como referência o pedreiro, o lixeiro. Eles usam como referência quem tira uma onda, rouba, assalta banco e depois paga cachaça pra população do bairro, mas de maneira nenhuma eu coloquei isso como desvalorização dos empregos em si. Eu defendo que se vendesse pra toda gente que é importante também ser um músico, ser DJ ou qualquer outra coisa pois todos são importantes. O valor do ser humano é um só, tanto o pedreiro quanto o presidente, só que não é isso que é passado pra gente, o que é passado pra gente é que a gente tem que ter o melhor tênis, a melhor calça. Ser o melhor e sempre o melhor. Eu não quero desvalorizar ninguém mas que esse sentimento existe dentro dos jovens, existe. Tem que haver uma mudança de pensamento de toda a gente, inclusive dos que tem os meios de governo.
Leonardo pergunta ao Linha Dura e ao MV Bill: A Cufa está em Cuiabá com esse trabalho social, eu queria saber as pessoas que tem interesse em fazer parte do grupo, participar, dar seu apoio, contribuir com a divulgação da cultura, quero saber como fazer para contribuir com isso?
Linha Dura: Estamos lançando uma campanha de voluntariado pra definir melhor isso. A Central Única das Favelas está aqui para todos que queiram participar, o único problema que temos é que o playboy, o cara da elite não quer chegar pra contribuir, no sapatinho, na humildade, quer chegar ser o dono. Quando a pessoa chega querendo ser dono, a gente tem que dar uma brecada, tem que passar o veneno que a gente passa pra adquirir respeito. Estamos na Presidente Marques, quem for lá vai ser bem vindo ou pode nos encontrar também no blog www.cufacuiaba.blogspot.com.br ou também no site www.cufamt.org.com.
MV Bill - O prefeito se retirou, mas alguém passa esse recado pra ele, eu não sou nem daqui. A porta tem que estar aberta a todos. Fico muito feliz em saber que isso está acontecendo, mas torço também pra que isso seja passado a outras instituições. Torço pra que toda essa discussão que estão sendo levantada aqui, todo esse debate, essa vontade de tentar resolver esse problema que se instala em Cuiabá, seja estendido a todas as pessoas de Cuiabá, com pessoas de todos os lugares, inclusive da CUFA, fico feliz que a Cufa faça parte da transformação mas não é a Cufa sozinha que vai conseguir mudar. Agradeço as portas abertas mas acho que as portas tem que estar abertas par ao próprio povo cuiabano. Em relação a outra coisa que o prefeito disse, que o Brasil fica inviabilizado quando não se fala em educação. Por mais que saibamos que tem um monte de moleque que teve a família desestruturada, não teve oportunidade, mas não virou bandido por causa disso. Não tiveram estudo mas viraram trabalhadores. Tem jovem que também conseguiu driblar toda a adversidade e se formar, mas esses são minoria. A minha felicidade é ver que a mobilização popular, de parlamentares, de todos, está sendo feita mais rápido, porque se você comparar Cuiabá com outras capitais, o processo de exclusão ainda é pequeno, se comparado às grandes cidades.
Moça do público: Existe alguma proposta de vocês fazerem qualificação de jovens de Mato Grosso. A Cufa trabalha com o lema fazendo do nosso jeito, mas sabemos que se autoridades fizerem leis que beneficiem os jovens de mato grosso. Quando temos autoridades do nosso lado, o processo anda mais rápido. Se existe uma proposta dos parlamentares, gostaria de saber o que eles tem a nos dizer?
Abicalil: "Agradeço nossa companheira pela interrogação e dizer que participo da comissão especial de políticas públicas da juventude, e o primeiro resultado dessa comissão é a criação de uma secretaria especial de políticas para a juventude, e a partir daí fizemos leis nacionais, uma delas viabilizada pelo prefeito WS, (bolsa não sei o que), em rede pública de educação. Esse mesmo programa estimula empresas a darem emprego a jovens de 17 a 24 anos. Através de incentivo fiscal tendo uma bonificação de 100 reais para cada jovem. Por doze meses pelo menos. Sou o relator de um projeto que tem a ver o processo de visibilidade, com reserva de vagas para jovens em instituições públicas. Seja no CEFET, nas escolas agrotécnicas, nas universidades federais, que eles possam contemplar também a variável [étnica, indígenas, brancos, mestiços, tenhamos a condição dessa mesma proporção ser refletida para acesso institucional (falou das ações do governo do seu partido)".
Pastor Sandro: o que vai acontecer com os jovens quando saírem do Pomeri? Como posso fazer com que este cara aqui (aponta um dos jovens do projeto no Pomeri) fique fora do crime?
Um interno do Complexo complementa: Eu queria saber, pois lá dentro eu faço curso de grafite, mas lá fora não há tanta oportunidade. A gente procura um emprego na rua e não acha porque tem passagem pelo Complexo, eu queria saber se vocês podiam dar uma força pra nós. Pois essa vida não dá mais pra mim.
MV Bill: Primeiro gostaria de dizer algumas coisas que eu enxergo dentro do sistema prisional do Brasil isso é só "achismo", mas talvez a origem dos acontecimentos em SP é a forma com que as pessoas são tratadas no Brasil, antes de serem presas, quando são presas e depois que saem da cadeia, não vemos ações serem feitas na ressocialização de pessoas quando elas saem do sistema prisional, as vezes eles voltam para o crime, pois as pessoas não acreditam que presos possam ser recuperados. O único jeito de impedir que voltem ao crime é garantindo trabalho, como as poucas instituições que conseguem adentrar os presídios (cita o caso de uma das instituições) acho que o diagnóstico pra isso é fazer com que o preso vote, O preso não vota, e a maioria das coisas no Brasil são feitas com fins eleitorais. Enquanto ele não votar, vai ficar sendo visto como escória subumana. Tem a barreira da cor pra quem quer empregar e ainda com a alcunha de ex-presidiário, dificilmente um jovem como esse vai conseguir emprego ou ser aceito de novo dentro da sociedade, é isso que tem empurrado os jovens pra crimes as vezes mais pesados do que o delito que ele cometeu, além da discussão sobre outros assuntos, precisamos discutir de forma `seria o sistema penitenciário. Acredito que ninguém tem ainda uma resposta pra essa pergunta. Se tivesse alguma coisa já estaria sendo feita. Mas acho que ninguém aqui da mesa vai ter uma resposta que vai suprir os anseios dos jovens que fizeram a pergunta. Não é uma realidade de Cuiabá, mas do Brasil inteiro, infelizmente.
Carlos Caetano (Diretor do Pomeri) fala do sistema de recuperação, cita a piscina e padaria que construíram lá, quadras de esporte e projetos com advogados, pedagogos e psicólogos, que devem acompanhar os jovens após o período de reclusão. Cita parcerias com o SENAI e o SENAC para que jovens possam receber cursos após saírem do sistema prisional e encaminhados ao mercado de trabalho. Convênio com a USA (não sei o que é isso), bolsas e cursos. Lembra a frustração em ver jovens voltando ao sistema uma semana após terem saído. Por isso a necessidade de acompanhamento quando da soltura. Garante que ninguém mais sai da internação sem acompanhamento.
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