18.8.06

CUFA e Calango in Vídeo

Por Simone Alves

Como um dos fundadores desse pólo de produção cultural, foi convidado por Celso Athaide e MV Bill a trabalhar no documentário "Falcão - meninos do tráfico”. Não tinha muita experiência com câmera, mesmo assim foi convidado a trabalhar neste documentário. De deslumbrado passou a ser interessado. Quando o câmera titular saía para almoçar, ele assumia com responsabilidade o espaço do colega . Hoje, Rodrigo Felha é coordenador e professor das oficinas de artes audiovisuais, na Célula Cultural da Cidade de Deus (RJ), onde nasceu e foi criado. Hoje ele está em Cuiabá, participando da Oficina de Audiovisual que faz parte da programação da 4ª Edição do Festival Calango. Em entrevista, conta a experiência de ser um captador de imagens.

- Fale para os nossos internautas, a experiência com a oficina de artes audiovisual na Cidade de Deus?
¨¨¨¨O curso atende mais pessoas da favela, mais também abrange outros interessados também. São 70 alunos que possuem a oportunidade de conhecer todas as áreas do audiovisual. Eles conhecem e depois passam a criar roteiros, produzir, filmar e editar. A CUFA antecipa as informações para quando a aula com gabaritados como os Cacá Diegues e Eduardo Coutinho chegar, os alunos já estão cientes do assunto.
O curso é a oportunidade que eu e outros voluntários oferecem para quem quer fazer câmera.

- Já participou de alguns festivais de cinema independente, como é estar concorrendo?
¨¨¨¨Participei, por exemplo, do 9º Festival Brasileiro de Cinema Universitário, com o curta Carnaval de Jacarepaguá. Nele, eu mostro a história das pessoas, a realidade existente atrás dos blocos, o choro de frustração, o riso, a ansiedade, o suor do trabalho. Quando a gente mostra isso num documentário, é uma informação interior marcante. A mídia costuma mostrar o bloco já na avenida.

- Por que tanta aceitação do documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”?
¨¨¨¨Existe uma legitimidade neste documentário. Existe a responsabilidade de quem está fazendo. A sociedade não só viu os sonhos dos meninos da favela, viu os sonhos de seus filhos. Quando aqueles jovens esqueceram a câmera, eles mostraram quem realmente eram e quem desejavam ser. Nós fomos para eles mais que entrevistadores, fomos amigos. Por mais que fosse somente naquele momento. Nós éramos o espelho deles, onde refletiam sonhos valorizados.

- Como é a vida na Cidade de Deus?
¨¨¨¨Moro na Cidade de Deus, mais a violência não está só na favela, está na vida e no ser humano. Senão a classe alta estaria livre e não conceberia criminosos. Na Cidade de Deus, a CUFA foi a porta de entrada para trabalhos sociais. Hoje lá, tem advogados e professores. Todos aprendem a conviver e respeitar regras, mas vivemos bem, até a polícia entrar.

- Qual a sua opinião sobre a criação do dia da favela (4 de novembro)?
¨¨¨¨É um dia para se comemorar. Para se lembrar que existem coisas boas nela, coisas que fazem crescer. Nesse dia vamos dar mais atenção para as coisas boas como projetos sociais. Existe o dia do solteiro, por quê não existir o dia da favela. Esse dia foi criado para mostrar que existe e está perto de nós.

- Que conselho costuma dar aos seus alunos?
¨¨¨¨Fazer, errar e fazer de novo. Gostar de aprender e ensinar, para que possam dividir o conhecimento. Ter ética, pois nós estamos plantando a semente do futuro de nosso cinema.

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