Bom pessoal, conheci o MV Bill pessoalmente dia 18 de maio de 2004, aqui em Cuiabá, nessa época estava organizando um evento no qual ele ia fazer um show e participar de uma palestra. Nessa palestra ele falava sobre seus projetos e sobre a realidade da Cidade de Deus. A cada realidade prendia minha atenção e do público, mas eu, como sempre, ficava desconfiado pensando coisa do tipo “será que é real mesmo? Será que esse carioca não quer impressionar nós cuiabanos? Fazer tipo e dizer que ele vive no meio do caos e ganhar aplausos e atenção do público?" Perguntas que sempre ficaram no ar para mim. Penso assim porque já conheci vários rappers que, quanto mais violento é o seu bairro, parece que é melhor, ficam na porta da sua casa esperando morrer um pra relatar o que viu na sua letra... foda, mas rola esse tipo.Fui conhecendo o Bill,trocando idéias por telefone, e-mail, até que ele voltou para Cuiabá pra outra palestra, ou melhor, um bate-papo com os estudantes da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). E continuavam as histórias de vida cada vez mais polêmicas. Lá no fundo aquele mesmo questionamento. Acreditando e ao mesmo tempo pensando com meus botões, "esse maluco é programado pra fazer discurso e polemizar, por isso ele tem esse ibope todo, verdadeiro marketeiro",.Mas de boa, vou vivendo, cada um no seu trabalho, eu sou cuiabano de pé rachado, mas sempre viajei, conheço alguns lugares do Brasil, já conheci favela em Guarulhos, favela em Salvador, em São Paulo eu já fiquei na zona Sul, Morro do Piolho, Jardim Rosana, e ouvi histórias incríveis do pessoal do crime nesses lugares... mas no Rio de Janeiro é totalmente diferente de tudo que vi.Gurizão, essa é a real da minha ótica.12 de agosto de 2005, fui levar o time de basquete, BAIXADA CUIABANA, para o Rio de Janeiro para disputar a LIBBRA (Liga Brasileira de Basquete de Rua), mas meu intuito mesmo era conhecer as favelas cariocas. Fiquei no hotel até o dia 14, depois fiz meu contato com o Felha. Barbosa que me apresentou outro irmão, o Kid. Putz, sem palavras, os caras viraram meus brothers, valeu pela recepção! Nisso, onde é que fui parar? Lá mesmo no território do mensageiro, a famosa CDD. Pedi pra rapaziada me levar para um baile funk, só pra matar a curiosidade, mas não foi preciso.Quase na frente do AP do Bill tem um campo de futebol, e um terreno do lado, e tava rolando mó festa, era uma tal de Tati Quebra-Barraco, que por sinal super famosa, mina que pra mim eu nunca tinha ouvido falar. Gurizão, impressionante a cena: o funk predominando, muita gente na rua, muita mulher, aonde você olhava era bunda rebolando 360 grau, troca de idéia daqui, outra ali, de repente vi um pequeno bando no meio do pessoal. Eram meninos de, vamos ver, eu dou 6 a 10 anos. Uns 8 meninos no total, todos com armas de madeira, mochila nas costas, andando pra lá e pra cá. Eram os soldados do morro em miniatura, as armas deles representando fuzis e mini-metralhadoras, acho que se eles pintassem as armas de preto, iam levar tiro da polícia, por pensar que eram de verdade. Os meninos param no meio da rua, todos dançando e pulando com as armas pra cima, tipo dando tiro pro alto.Eu não sabia se ria ou se chorava de tristeza, fui apresentado a um rapaz que mostrou a filha dele pra mim, rebolando até o chão. O rapaz ria, aí perguntei pra ele: "você acha legal sua filha tão pequena dançando desse jeito (lembrei do clipe sou puta sim, da Nega Gizza)?" O rapaz me disse, "olha ao seu redor o que você vê?" Meu eu só tenho que rir, não posso brecar isso aqui.E a noite segue até então normal, desligaram o som e montaram agora na frente do AP do mensageiro, do lado tem uma subida, e do nada eu escuto uma rajada... TRA TRA TRA... misturado com o som do funk, que por sinal tocava “você vai dar essa porra hoje!” Vixe, meu olho arregalou. A poucos metros de distância, um jovem do lado do som com um fuzil pendurado no pescoço, na moral, tipo normal, era a inspiração dos meninos que citei. Fiquei refletindo sobre todas as histórias do Bill, pensei "caralho, esse maluco não inventou não, é a pura verdade!" Tipo não desacreditava, mas não acreditava que era assim tão comum. Na hora veio a cena do clipe Soldado do Morro.
Fiquei a noite toda refletindo sobre tudo aquilo, fiquei injuriado, não tinha nada para registrar, pelo menos uma foto, porque chegar em Cuiabá e contar tudo isso, acho que ninguém ia acreditar. No outro dia, segunda-feira, fui visitar a base da CUFA na CDD, e o que eu vejo? Essa é a saidera, uns malucos na esquina em uma encruzilhada, tá ligado? Com um saco de lixo preto, desses tamanho médio, cheio de maconha, gritando: "Olha a maconha a maconha, vai uma maconha ai?" Rapaziada, na moral, é esquisito ver umas paradas dessas, e mais esquisito ainda é saber que o Estado é quem financia tudo isso, lê o livro Cabeça de Porco, saca a realidade do Brasil. Ver na TV é uma coisa, estar lá junto é outra fita. Cheguei em Cuiabá, fui falar com o secretário de Defesa e Cidadania aqui da cidade, falei pra ele da minha ida no Rio, ele me perguntou, "e aí qual foi"? Eu disse "secretário, não sei se tem solução no Rio de Janeiro, mas comparado com o crime daqui, eu te digo aqui tem solução".Cuiabá é considerada a terceira cidade mais violenta do Brasil, comparando por população, esse dado eu vi no Jornal Nacional, mas te digo, é um crime camuflado, diferente, ninguém anda de fuzil na rua, como se estivesse com uma mochila. Ou vendendo maconha como se estivesse em uma feira, mas aqui é rota, a Bolívia está bem aqui do lado, muita coisa passa por aqui. MV Bill, segue na fé, parceiro! Seu trabalho é verdadeiro, eu acredito na mudança, porém vendo a CDD eu fiquei sem resposta.
Triste, mas é a real, com certeza na CDD tem suas coisas boas, como por exemplo os projetos sociais que a CUFA e outras organizações desenvolvem dentro da favela, disputando menino a menino para não entrar no crime. Conversei com alguns moradores que repudiaram o filme CIDADE DE DEUS. Me disseram que no lançamento do filme, antes de passar no cinema, eles passaram na CDD, na metade do filme a comunidade vaiou e virou as costas para o telão, vi a felicidade de uma senhora que estava na sua casa comendo um churrasco, ela me contou toda alegre que sua filha estava no núcleo de audiovisual da CUFA. Bom vou parar por aqui, senão não paro de escrever. Segue a vida, porque o sol nasce todo dia.
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Fiquei a noite toda refletindo sobre tudo aquilo, fiquei injuriado, não tinha nada para registrar, pelo menos uma foto, porque chegar em Cuiabá e contar tudo isso, acho que ninguém ia acreditar. No outro dia, segunda-feira, fui visitar a base da CUFA na CDD, e o que eu vejo? Essa é a saidera, uns malucos na esquina em uma encruzilhada, tá ligado? Com um saco de lixo preto, desses tamanho médio, cheio de maconha, gritando: "Olha a maconha a maconha, vai uma maconha ai?" Rapaziada, na moral, é esquisito ver umas paradas dessas, e mais esquisito ainda é saber que o Estado é quem financia tudo isso, lê o livro Cabeça de Porco, saca a realidade do Brasil. Ver na TV é uma coisa, estar lá junto é outra fita. Cheguei em Cuiabá, fui falar com o secretário de Defesa e Cidadania aqui da cidade, falei pra ele da minha ida no Rio, ele me perguntou, "e aí qual foi"? Eu disse "secretário, não sei se tem solução no Rio de Janeiro, mas comparado com o crime daqui, eu te digo aqui tem solução".Cuiabá é considerada a terceira cidade mais violenta do Brasil, comparando por população, esse dado eu vi no Jornal Nacional, mas te digo, é um crime camuflado, diferente, ninguém anda de fuzil na rua, como se estivesse com uma mochila. Ou vendendo maconha como se estivesse em uma feira, mas aqui é rota, a Bolívia está bem aqui do lado, muita coisa passa por aqui. MV Bill, segue na fé, parceiro! Seu trabalho é verdadeiro, eu acredito na mudança, porém vendo a CDD eu fiquei sem resposta.
Triste, mas é a real, com certeza na CDD tem suas coisas boas, como por exemplo os projetos sociais que a CUFA e outras organizações desenvolvem dentro da favela, disputando menino a menino para não entrar no crime. Conversei com alguns moradores que repudiaram o filme CIDADE DE DEUS. Me disseram que no lançamento do filme, antes de passar no cinema, eles passaram na CDD, na metade do filme a comunidade vaiou e virou as costas para o telão, vi a felicidade de uma senhora que estava na sua casa comendo um churrasco, ela me contou toda alegre que sua filha estava no núcleo de audiovisual da CUFA. Bom vou parar por aqui, senão não paro de escrever. Segue a vida, porque o sol nasce todo dia.
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